Acho
que (quase) todo mundo já viu pelo menos uma adaptação de Um Conto de
Natal de Charles Dickens, aquela história do velho e avarento Ebenezer
Scrooge, que recebe a visita de três fantasmas (do passado, presente e
futuro) na noite de Natal. Pois é, o conto já foi adaptado pro teatro,
TV, cinema, quadrinhos (sério, desde turma da Mônica até Batman) e a
cada ano a história sempre é recontada de alguma forma diferente, sempre
com a mesma moral, que é algo do tipo "Não seja um velho avarento ou
vai morrer sozinho e sem amigos".
Enfim,
notei que os roteiristas que escrevem a minha vida, desleixados que são
(tsc tsc), numa escreveram Um Conto de Natal pra mim. Então decidi dar
uma força e imaginar como seria receber os tais fantasmas (a princípio,
talvez eu pensasse em usar armadilhas, armas de prótons e tomar cuidado
em não cruzar os raios, mas deixa esse tipo de coisa pro Bill Murray).
Bom,
o primeiro fantasma, dos natais passados, provavelmente me levaria para
algum lugar na minha infância, quando eu aproveitava a data pra ficar
vendo TV até mais tarde enquanto meus pais iam dormir. Sim, nunca
tivemos o hábito de celebrar o natal lá em casa e me restava ver TV ou
jogar videogame sozinho. O fantasma, provavelmente, estaria rindo de mim
nesse momento. Mas avancemos um pouco mais nessa triste história desse
pobre e solitário garoto que protagonizava altas histórias com seus
amigos imaginários (melhor do que "ver gente morta", pelo menos). Na
adolescência, descarado, passei a serrar o natal na casa de um amigo. E
lá era clássico, tinha ceia, amigo secreto, peru e muitos outros comes e
bebes. Fiz isso por alguns anos e foram bons momentos. Mais alguns
desses e eu já virava membro oficial da família. Mas daí ele foi morar
em outro estado e foi por água abaixo esse plano. Com uma gargalhada ao
ver o cabelo que eu cultivava na época, o Fantasma se despediria.
Em
seguida, viria o Fantasma do Presente e, parafraseando o Cebolinha (eu
disse que li uma história da Mônica com o tema): "Presente! Presente!
Presente!". Ok, é certo que ele não traria nenhum jogo novo pra mim ou
mesmo aquele efepymeropemo de estimação que pedi (esse bicho nem
existe!) e me levaria para ver o que tá rolando por aí. Não em tempo
real, eu acho. Mas passaria pelos meus natais recentes, ao lado da
família da minha esposa, algumas vezes com meus pais como convidados e
trazendo uma mudança muito boa em nossos costumes antissociais. De certo
que o Fantasma perguntaria por que eu nunca tenho dinheiro para
presentear todo mundo e, antes mesmo que eu respondesse, ele insistiria,
questionando por que eu nunca tenho dinheiro pra presentear ninguém na
verdade, tentando me convencer que o tal Ebenezer aprendeu a lição e
deixou de ser avarento. Eu o ignoraria, claro. Afinal, quase nunca tenho
dinheiro mesmo (escritor sofre!).
O
terceiro Fantasma, no conto, leva o velho Scrooge à sua própria cova,
mostrando que ele morreria sozinho e sem amigos, como eu já disse (só
olhar lá em cima no texto, sério). Bom, no meu caso, não acho que eu
iria querer ver esse trecho não. Talvez eu pensasse numa estratégia para
subornar o Fantasma pra me mostrar os números da Mega Sena da Virada,
daí poderia deixar de ser tão sovina e presentear as pessoas de vez em
quando. Sério. Se isso acontecesse (ganhar na Mega da Virada), nenhum
amigo meu ia ficar sem panetone esse ano... eu mandaria um pra eles
repartirem, com um cartão de Feliz Natal e Próspero Ano Novo!
...Ok, pelo jeito, eu não aprendi a lição e continuo avarento.