domingo, 29 de dezembro de 2013

Os Fantasmas do Natal


Acho que (quase) todo mundo já viu pelo menos uma adaptação de Um Conto de Natal de Charles Dickens, aquela história do velho e avarento Ebenezer Scrooge, que recebe a visita de três fantasmas (do passado, presente e futuro) na noite de Natal. Pois é, o conto já foi adaptado pro teatro, TV, cinema, quadrinhos (sério, desde turma da Mônica até Batman) e a cada ano a história sempre é recontada de alguma forma diferente, sempre com a mesma moral, que é algo do tipo "Não seja um velho avarento ou vai morrer sozinho e sem amigos". 
 
Enfim, notei que os roteiristas que escrevem a minha vida, desleixados que são (tsc tsc), numa escreveram Um Conto de Natal pra mim. Então decidi dar uma força e imaginar como seria receber os tais fantasmas (a princípio, talvez eu pensasse em usar armadilhas, armas de prótons e tomar cuidado em não cruzar os raios, mas deixa esse tipo de coisa pro Bill Murray).  
 
Bom, o primeiro fantasma, dos natais passados, provavelmente me levaria para algum lugar na minha infância, quando eu aproveitava a data pra ficar vendo TV até mais tarde enquanto meus pais iam dormir. Sim, nunca tivemos o hábito de celebrar o natal lá em casa e me restava ver TV ou jogar videogame sozinho. O fantasma, provavelmente, estaria rindo de mim nesse momento. Mas avancemos um pouco mais nessa triste história desse pobre e solitário garoto que protagonizava altas histórias com seus amigos imaginários (melhor do que "ver gente morta", pelo menos). Na adolescência, descarado, passei a serrar o natal na casa de um amigo. E lá era clássico, tinha ceia, amigo secreto, peru e muitos outros comes e bebes. Fiz isso por alguns anos e foram bons momentos. Mais alguns desses e eu já virava membro oficial da família. Mas daí ele foi morar em outro estado e foi por água abaixo esse plano. Com uma gargalhada ao ver o cabelo que eu cultivava na época, o Fantasma se despediria.  
 
Em seguida, viria o Fantasma do Presente e, parafraseando o Cebolinha (eu disse que li uma história da Mônica com o tema): "Presente! Presente! Presente!". Ok, é certo que ele não traria nenhum jogo novo pra mim ou mesmo aquele efepymeropemo de estimação que pedi (esse bicho nem existe!) e me levaria para ver o que tá rolando por aí. Não em tempo real, eu acho. Mas passaria pelos meus natais recentes, ao lado da família da minha esposa, algumas vezes com meus pais como convidados e trazendo uma mudança muito boa em nossos costumes antissociais. De certo que o Fantasma perguntaria por que eu nunca tenho dinheiro para presentear todo mundo e, antes mesmo que eu respondesse, ele insistiria, questionando por que eu nunca tenho dinheiro pra presentear ninguém na verdade, tentando me convencer que o tal Ebenezer aprendeu a lição e deixou de ser avarento. Eu o ignoraria, claro. Afinal, quase nunca tenho dinheiro mesmo (escritor sofre!).  
 
O terceiro Fantasma, no conto, leva o velho Scrooge à sua própria cova, mostrando que ele morreria sozinho e sem amigos, como eu já disse (só olhar lá em cima no texto, sério). Bom, no meu caso, não acho que eu iria querer ver esse trecho não. Talvez eu pensasse numa estratégia para subornar o Fantasma pra me mostrar os números da Mega Sena da Virada, daí poderia deixar de ser tão sovina e presentear as pessoas de vez em quando. Sério. Se isso acontecesse (ganhar na Mega da Virada), nenhum amigo meu ia ficar sem panetone esse ano... eu mandaria um pra eles repartirem, com um cartão de Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

...Ok, pelo jeito, eu não aprendi a lição e continuo avarento.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Quando eu era criança

Quando eu era criança, achava que ia conquistar o mundo. Imaginava que, quando crescesse, seria rico, bonito, famoso e teria salvado a humanidade ou, pelo menos, ter participado ativamente de algo assim. Eu seria "O Escolhido", o próximo Neo. Eu estava predestinado a ser "the last man stand". Claro que o tempo passou, eu cresci, amadureci, caí na real e percebi que, pra começo de conversa, eu era preguiçoso e egoísta demais pra ser assim tão importante. Mas peraí? Quer dizer então que eu decepcionei aquela pobre criança que, duas décadas atrás sonhava com as estrelas? Não é bem assim... 
 
Pensando nisso, imaginei que se pudesse voltar no tempo, visitar a mim mesmo na infância, lá pelos 12 ou 14 anos, o que aquele garoto sonhador acharia. Ficaria chateado, desiludido? Desistiria de seus sonhos? E me surpreendi ao ver que não. Que no fim das contas, contando as mudanças de curso e os cálculos de novos destinos que fiz no GPS da minha vida, segui o caminho que sempre quis (claro, desconsiderando a parte de salvar o mundo e etc).

Sempre quis escrever, trabalhar e viver disso. Lembro quando, aos 9 ou 10 anos, minha professora da segunda série, a dona Terezinha, disse que sonhava com nosso sucesso, que seria uma realização um dia no futuro, pegar, por exemplo, um livro e ver meu nome como autor. E isso era um grande sonho meu, que consegui realizar, até agora com dois livros, a coletânea de contos "Crônicas Noturnas" e o romance (que não é um livro de amor) "Ted – Posso Ajudar?" e espero publicar muitos outros ainda. Sim, o mocorongo que eu era provavelmente perguntaria "Mas você ganha fortunas com os livros?". Claro que não. Mas como jornalista, me conforta poder trabalhar com uma coisa que me dá muito prazer e receber pra escrever. Isso é demais!

Mas nem todos os meus sonhos eram assim mesquinhos, eu também queria ser uma pessoa que vivesse bem com a família, tivesse bons amigos, pessoas em quem pudesse confiar e, principalmente, ser uma pessoa confiável. E fico muito feliz por ter várias pessoas com essas características na minha vida, desde os meus pais, família e vários bons amigos, que sempre fazem os tons de cinza do dia-a-dia ficarem mais coloridos e, claro, minha esposa que está sempre ao meu lado e que não poderia ser melhor nem se eu a tivesse imaginado.

Então, talvez eu até desse alguns conselhos pra mim mesmo. Umas dicas pra vida ser mais fácil, quem sabe? Tipo, "escolhe o Pikachu, escolhe o Pikachu!". Mas seria melhor não, essa trapaça poderia impedir que eu passasse por certas coisas e me privar do amadurecimento natural. E quando voltasse pro presente, talvez tudo estivesse diferente e eu fosse um engenheiro rico que desvia dinheiro público, ao invés de um jornalista pobre, mas feliz... Enfim, eu diria que vale a pena sermos nós mesmos, que os sonhos podem se alterar, alguns são deixados pra trás, mas que, nossa essência, pra continuar existindo, depende apenas da gente mesmo. É você, e ninguém mais, que vai decidir quem você será no futuro, que tipo de adulto vai se tornar.

Tirando os fatores externos e alheios à nossa vontade, tipo ter deixado o Will Smith salvar o mundo sozinho quando os alienígenas invadiram, hoje sou exatamente quem eu quero ser. E bastante feliz por onde cheguei e como cheguei. Espero que daqui a vinte anos, na próxima viagem de volta, a sensação seja a mesma.

E você, já olhou pra você mesmo e perguntou se era isso que queria pra você e pra sua vida? E se não era, está esperando o que pra mudar? Ao contrário do que afirmaria o Danilo Gentili em seu programa, nunca é tarde.